segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Arte no muro com os bebês: reflexões, pesquisas e planejamentos



 “...que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”.
 Manoel de Barros





De fato nos parece ser complicado medir com balanças, esquemas matemáticos etc. a importância das ações deste projeto para as crianças e adultos nele envolvidos. No entanto, certamente temos nos encantado muito com ele, assim como nos parece que aos bebês. Tal afirmação vela em conta a curiosidade com que eles se aproximam das propostas, a disposição e desejo para o trabalho, pela alegria, gritos e sorrisos emitidos por eles, assim como o longo tempo de envolvimento nas proposições e o descontentamento quando precisam parar para comer, por exemplo. Do mesmo modo, temos acompanhado aqueles bebês que inicialmente tinham resistências a tocar no barro/lama e que agora já começam a fazê-lo sem que tenhamos que incentivar/encorajar mais de perto. Sim, este é um daqueles trabalhos não pode ser medido, avaliado com fita métrica como diz o poeta. Ele é um percurso a ser reconhecido/ pelo encantamento presente entre aqueles que estão envolvidos. Um encantamento que envolve e emerge de “processos criativos globais” das crianças pequenininhas no campo das artes visuais.




Para Fayga Ostrower (1987, p.142), os processos criativos globais envolvem a totalidade da personalidade, ou seja, “o modo de a pessoa diferenciar-se dentro de si, de ordenar e relacionar-se com os outros”. Compartilhamos com a autora a concepção de que criar configura-se na estruturação e comunicação do sujeito criador, integrando e transmitindo significados. E mais,


Ao criar, procuramos atingir uma realidade mais profunda do conhecimento das coisas [aqui os bebês estão conhecendo mais profundamente as forças criadoras do barro e das suas próprias potencialidades criadoras, descobrindo e construindo a sua personalidade]. Ganhamos concomitantemente um sentimento de estruturação interior maior; sentimos que nos estamos desenvolvendo em algo de essencial para o nosso ser. Daí se torna tão importante, para o artista ou para qualquer pessoa sensível, saber do trabalho de outros, ter contato com seres criativos, não no sentido de uma rivalidade, mas no sentido de um crescimento interior que também em nós se realiza quando podemos acompanhar a realização de outro ser. (Ostrower, 1987, p. 143)



A atenção sobre os processos de criação em si entre e das crianças, não significa dizer que o grupo deixe de refletir sobre as visualidades engendradas pelos bebês. Como este projeto envolve muita reflexão do grupo, em algumas reuniões – reuniões para além daquelas que os(as) professores(as) já estão envolvidos(as) no cotidiano do grupo de crianças e da própria instituição – dialogamos sobre as visualidades (bi ou tridimensionais) criadas. Esta dinâmica – que faz parte do processo de documentação como ciclo de investigação – é um dos pressupostos para que o encantamento, do qual falávamos inicialmente, ocorra.


 
Imagens da reunião de planejamento do grupo ocorrida em maio de 2012.

Os estudos e pesquisas é uma rotina entre a equipe que coordena, os bolsistas do projeto e professoras. Alguns dos materiais que encontramos, pesquisamos, estudamos podem ser encontrados e acessados aqui mesmo pelo blog nos links “Coisas que vamos descobrindo por aí” e “Grupos de pesquisa, artigos e outras publicações”. Também – e aí vai a extensão do encantamento – somos igualmente nutridos com materiais partilhados por professores(as) do NDI que não estão envolvidos diretamente no projeto. Aqui, destacamos a contribuição da professora Regina Ingrid sobre o trabalho do artista espanhol Miguel Ángel Blanco (Madri, 1958). A Biblioteca del bosque, trabalho do artista citado, igualmente nos encantou e, para conhecer a proposta de trabalho deste artista contemporâneo, basta clicar sobre a imagem e surpreender-se!


Imagem disponível em: http://www.bibliotecadelbosque.net/biblioteca.html Acessado em: 12/06/2012

Outro material que compartilhamos aqui mostra o trabalho realizado numa escola espanhola com crianças de 3 a 13 anos de idade, que coloca em contato direto e produzindo coletivamente, crianças e artistas.  Tal proposta foi divulgada dentro das discussões do “I Congreso Internacional de Arte, ilustración y cultura visual em educación infantil y primaria” (2010), promovido pela Universidade de Granada – Espanha.

O projeto busca não apenas ser incorporado no cotidiano do grupo, mas igualmente incorporar-se nos projetos e propostas que vão sendo gestadas em cada grupo de crianças, os encaminhamentos de continuidade do trabalho são diferentes. Isto também significa a atenção para com o movimento das crianças e as leituras de grupos que as professoras realizam. Além disso, buscamos explorar ao máximo o espaço em que a instituição se encontra, pois fazemos parte do Campus da Trindade da Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis) e lembramos que muitos dos espaços (além dos projetos e propostas pedagógicas) desta Universidade estão abertos às crianças, seus professores e a comunidade em geral!

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