terça-feira, 28 de agosto de 2012

Terra + Água + Papelão + Bebês em ação = ???? Qual será o resultado desta fórmula?


 Mais uma vez, apostamos na direção da continuidade das propostas que oportunizam as crianças pequenininhas brincarem, sentirem as provocações da lama antes da passagem direta para a modelagem na argila. Na postagem do dia 06 de maio, apresentamos o grupo da professora Josiana brincando, arranhando, experimentando a “placa de barro molinho” (lama) posicionada horizontalmente numa mesa no parque da instituição, lembram? Assim, seguindo a perspectiva do “processo de documentação como um ciclo de investigação” (Gandini e Goldhaber, 2002, p.162), as professoras e a coordenação do projeto buscaram criar uma nova proposição para os bebês que, a partir da análise do que já havia sido feito. Nesta direção, foram engendradas novas perguntas e um planejamento que oferecesse ao mesmo grupo de crianças pequenininhas não apenas a diversificação das suas experimentações com a lama, mas a sua complexificação e suas primeiras modelagens na argila.

Partindo destas considerações, a professora Josiana colocou para o grupo a ideia das crianças trabalharem com a lama (argila diluída em água) sobre o papelão, mas na vertical! Ao mesmo tempo, indicou a disponibilização – no mesmo espaço – de um bloco de argila mais densa para as primeiras modelagens daqueles bebês que se sentissem provocados a modelar o barro. Mas sobre qual suporte realizar esta proposta? Papel pardo, papel cartão preto, papelão? Onde ela seria realizada? A lama, quando seca, não cairia do suporte? A partir destas e outras tantas indagações algumas “investigações” e “testes” foram realizados com os possíveis suportes e materiais, assim como uma reunião de planejamento para discussão da proposta com todo o grupo. Isto porque, todos do projeto colaboram – cada qual dentro da sua especificidade de trabalho e conhecimento – com a organização, desenvolvimento e documentação das proposições. Acompanhem algumas imagens desta etapa:


                                                                    Prova 1: lama sobre papel cartão preto

                                                                   Prova 2: lama sobre papel cartão preto e papelão

 
                                      Prova 3: mistura de lama com cola branca sobre papelão e papel cartão preto

A proposta que melhor atendeu as necessidades para a execução e durabilidade do trabalho foi a mistura de cola e lama sobre papelão. Quanto a cor de fundo, o grupo optou por apresentar às crianças as duas possibilidades: trabalho sobre fundo preto e sobre fundo de cor parda.


 
A opção naquele momento foi a de os adultos organizarem o material para a proposta, mas nada impede que você faça com os bebês a pintura – caso achar interessante dentro dos objetivos da sua proposta. Esta decisão também está pautada no fato de que a pintura faz parte – de modo contundente – do cotidiano das crianças pequenininhas no NDI.


No dia da realização da proposta, contamos com a participação das alunas estagiárias do curso de Pedagogia da UFSC – habilitação em Educação infantil – Ana Carolina Moreira Victoria (realizando o registro escrito da atividade) e Yolanda (realizando juntamente coma professora Vania o registro fotográfico). Também contamos com a presença da professora supervisora de estágio Ângela M. Scalabrin Coutinho e os bolsistas do NDI Nicole e Gelson. Certamente o número de adultos envolvido foi grande, o que não significa dizer que todos, ao mesmo tempo, atuaram no processo.  O que afirmamos aqui é que todos estavam centrados em promover está proposta pedagógica na sua plenitude. Ou seja, num ambiente (físico, material e humano) que favorecesse as crianças bem pequenas “o ato de compartilhar experiências sensíveis de estranhamento e surpresa no encontro entre corpos e mundos” (RICHTER, 2005, p.31). E podemos dizer que esta perspectiva de atuação pedagógica se encontra na raiz de todas as ações cotidianas envolvendo o projeto ARTE NO MURO.
 

Organizando o ambiente, preparando a lama




Penduramos as placas retangulares de papelão, uma pintada de preto e outra normal, no deck dos chuveiros. Josiana e eu ficamos com dúvida se a altura que estávamos pendurando as placas era adequada às crianças e Josiana pede para uma das crianças do grupo vir ajudar a medir. Mesmo depois de dizer que a menina já podia abaixar a mão, ela a mantém estendida por mais alguns segundos, parecendo querer mostrar que estava orgulhosa em ajudar. Quando vê a Josiana registrando fotograficamente sua ajuda, aí mesmo é que fica parada olhando”.
(excerto do registro escrito de Ana Carolina - 17/04/2012)




  
“Com a água revitalizamos a matéria, e com a força do nosso corpo, ao amassar a argila, damos unidade e densidade [...]” (KANAKO, 1988).





Criando marcas pelo mundo: as provocações da lama e  as ações das crianças 


Nas crianças, a criatividade se manifesta em todo seu fazer solto, difuso, espontâneo, imaginativo, no brincar, no sonhar, no associar, no simbolizar, no fingir da realidade e que no fundo não é senão o real. Criar é viver, para a criança.

Nessas experiências infantis, a sensibilidade e o raciocínio ainda se processam de uma mesma maneira de ser e partindo de um só impulso a fim de apreender, compreender e controlar as situações e explorar-lhes novas possibilidades. Estas se reestruturam em situações novas, e novamente a criança parte para a aventura”.
(OSTROWER, 187, p.127).


E as crianças foram convidadas a iniciar a aventura...

“Combinei [com os demais adultos envolvidos na proposta] de novamente deixar as crianças irem percebendo a novidade de materiais no parque e, se necessário, irmos aguçando a curiosidade delas para o local organizado.
[...] Na descida, Bruno passa pelos demais colegas que estão no parque com Nicolle e Yolanda com as mãos cheias de argila e diz “olha Yolanda, olha a minha mão”. Ela pergunta o que ele tem em mãos, porém ele sai em direção à mesa e não responde. Yolanda e Nicolle instigam as outras crianças para irem ver onde o Bruno conseguiu aquilo, onde estavam as outras crianças, a Josi, o que estavam fazendo? Josi se aproxima das bacias com lama dispostas no tablado de madeira em frente aos suportes de papelão com Elisa, Sara e Lis. Logo chegam também Yolanda, Bruno, Luiz e Pedro que, espantado, diz: “caraca”! As crianças começam a interagir com o material, Sara é a primeira a colocar as mãos na bacia e enchê-las de argila, chamando a atenção dos adultos que estão em volta para que olhem suas mãos, ao mesmo tempo em que dá gritinhos!” 
(excerto do registro escrito por Josiana e Ana Carolina – 17/04/2012).


Veja qual foi o resultado da "fórmula": terra + água + papelão + bebês em ação = ????









 E a argila para modelagem, onde foi parar neste percurso? Pois bem, numa mesa próxima ao local onde foram colocados os suportes de papelão e a lama, as crianças encontraram também um imenso bloco de argila para as primeiras modelagens.  E como acontece a aproximação das crianças e o trabalho com a argila? Vejamos o registro:


“Murilo percebe que há outro tipo de argila na mesa e pergunta ao Gelson: “Esse tá pronto?”, o bolsista afirma que sim. Murilo se interessa e esfrega as mãos cheias de lama pela superfície do bloco de argila. [ algum tempo depois...] Josi convida as crianças para ver a argila que está na mesa. Com exceção do Mateo que ainda se interessa por brincar no papelão e faz o movimento de ir e vir entre a mesa e os papéis, todas as outras crianças acompanham Josi Gustavo, Elisa e Luiz pegam vários pedaços de argila e começam a interagir modelando e mostrando um ao outro o que estão fazendo, por vezes sem dizer do que se trata, só chamando a atenção do colega e mostrando. Pedro e Mateo se envolvem no movimento e vão criando também diferentes elementos com vários pedaços de argila. Josi está na mesa, também modelando, e vai contando às crianças o que está fazendo. Bruno vê, se aproxima e pergunta a ela o que é, ela diz que está mostrando aos colegas que está fazendo o osso da coluna, ela demonstra nas costas de Pedro e toca nas costas do Bruno para mostrar a ele”  (excerto do registro escrito de Josiana e Ana Carolina – 17 / o4 / 2012).

Nesta proposta as crianças modelam uma ampla gama de formas, as quais próprias crianças sente a necessidade de “batizá-las” no ato de criação como: minhocas, iorgutes, vaquinhas,  porco, símbolo e muito mais! Ao mesmo tempo em que modelavam, algumas crianças cantarolam músicas “enigmáticas” para nós adultos. Também, aproximaram-se e modelaram conjuntamente com as crianças pequenininhas, algumas crianças de outros grupos – de 4 a 5 anos de idade – que estavam compartilhando o espaço do parque naquele momento. Um encontro profícuo para ambos os grupos infantis!

Passado algumas horas, pois esta proposta ocorreu no tempo das crianças, o grupo recebeu uma atenção especial para com a higiene, a final tinha lama e argila para todo lado. O resultado desse processo não poderia ser melhor, uma explosão de formas inusitadas!