“...que a importância de uma coisa não se mede
com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc. Que a importância de
uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”.
Manoel de Barros
De
fato nos parece ser complicado medir com balanças, esquemas matemáticos etc. a
importância das ações deste projeto para as crianças e adultos nele envolvidos.
No entanto, certamente temos nos encantado muito com ele, assim como nos parece
que aos bebês. Tal afirmação vela em conta a curiosidade com que eles se
aproximam das propostas, a disposição e desejo para o trabalho, pela alegria,
gritos e sorrisos emitidos por eles, assim como o longo tempo de envolvimento
nas proposições e o descontentamento quando precisam parar para comer, por
exemplo. Do mesmo modo, temos acompanhado aqueles bebês que inicialmente tinham
resistências a tocar no barro/lama e que agora já começam a fazê-lo sem que
tenhamos que incentivar/encorajar mais de perto. Sim,
este é um daqueles trabalhos não pode ser medido, avaliado com fita métrica
como diz o poeta. Ele é um percurso a ser reconhecido/ pelo encantamento presente entre aqueles que
estão envolvidos. Um encantamento que envolve e emerge de “processos criativos globais” das crianças pequenininhas no campo das artes visuais.
Para
Fayga Ostrower (1987, p.142), os processos criativos globais envolvem a
totalidade da personalidade, ou seja, “o modo de a pessoa diferenciar-se dentro
de si, de ordenar e relacionar-se com os outros”. Compartilhamos com a autora a
concepção de que criar configura-se na estruturação e comunicação do sujeito
criador, integrando e transmitindo significados. E mais,
Ao criar, procuramos atingir uma
realidade mais profunda do conhecimento das coisas [aqui os bebês estão conhecendo mais profundamente
as forças criadoras do barro e das suas próprias potencialidades criadoras,
descobrindo e construindo a sua personalidade]. Ganhamos concomitantemente um sentimento de estruturação interior
maior; sentimos que nos estamos desenvolvendo em algo de essencial para o nosso
ser. Daí se torna tão importante, para o artista ou para qualquer pessoa sensível,
saber do trabalho de outros, ter contato com seres criativos, não no sentido de
uma rivalidade, mas no sentido de um crescimento interior que também em nós se
realiza quando podemos acompanhar a realização de outro ser. (Ostrower, 1987, p.
143)
A atenção sobre os processos de criação em si
entre e das crianças, não significa dizer que o grupo deixe de refletir sobre
as visualidades engendradas pelos bebês. Como este projeto envolve muita
reflexão do grupo, em algumas reuniões – reuniões para além daquelas que os(as)
professores(as) já estão envolvidos(as) no cotidiano do grupo de crianças e da
própria instituição – dialogamos sobre as visualidades (bi ou tridimensionais)
criadas. Esta dinâmica – que faz parte do processo de documentação como ciclo
de investigação – é um dos pressupostos para que o encantamento, do qual
falávamos inicialmente, ocorra.
Imagens da reunião de planejamento do grupo ocorrida em maio de 2012. |
Os estudos e pesquisas é uma rotina entre a equipe
que coordena, os bolsistas do projeto e professoras. Alguns dos materiais que encontramos,
pesquisamos, estudamos podem ser encontrados e acessados aqui mesmo pelo blog
nos links “Coisas que vamos descobrindo
por aí” e “Grupos de pesquisa,
artigos e outras publicações”. Também – e aí vai a extensão do encantamento
– somos igualmente nutridos com materiais partilhados por professores(as) do
NDI que não estão envolvidos diretamente no projeto. Aqui, destacamos a
contribuição da professora Regina Ingrid sobre o trabalho do artista espanhol Miguel
Ángel Blanco (Madri, 1958). A Biblioteca del bosque, trabalho do artista citado, igualmente nos encantou e, para conhecer a proposta de trabalho
deste artista contemporâneo, basta clicar sobre a imagem e surpreender-se!
![]() |
Imagem disponível em: http://www.bibliotecadelbosque.net/biblioteca.html Acessado em: 12/06/2012 |
Outro material
que compartilhamos aqui mostra o trabalho realizado numa escola espanhola com
crianças de 3 a 13 anos de idade, que coloca em contato direto e produzindo
coletivamente, crianças e artistas. Tal
proposta foi divulgada dentro das discussões do “I Congreso Internacional de
Arte, ilustración y cultura visual em educación infantil y primaria” (2010),
promovido pela Universidade de Granada – Espanha.
O projeto busca
não apenas ser incorporado no cotidiano do grupo, mas igualmente incorporar-se
nos projetos e propostas que vão sendo gestadas em cada grupo de crianças, os
encaminhamentos de continuidade do trabalho são diferentes. Isto também
significa a atenção para com o movimento das crianças e as leituras de grupos que
as professoras realizam. Além disso, buscamos explorar ao máximo o espaço em
que a instituição se encontra, pois fazemos parte do Campus da Trindade da
Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis) e lembramos que muitos dos
espaços (além dos projetos e propostas pedagógicas) desta Universidade estão
abertos às crianças, seus professores e a comunidade em geral!
Nenhum comentário:
Postar um comentário